Embora haja diferenças vocabulares entre países que falam um mesmo idioma, o português apresenta formas divergentes onde teriam tudo para ser iguais
Praticamente todas as línguas apresentam variedades regionais, isto é, diferenças no modo de falar (pronúncia, vocabulário, sintaxe) perceptíveis de uma região a outra do território em que a língua é falada. Mesmo idiomas falados em áreas restritas costumam apresentar variações. Às vezes, é possível observar mudanças até entre bairros de uma mesma cidade. Basta lembrar o "mooquês" (do bairro da Mooca, em São Paulo) ou o inglês do Brooklyn, em Nova York. Sobretudo as línguas transnacionais (faladas em vários países) têm variedades com diferenças significativas, como é o caso do inglês (variedades britânica, americana, jamaicana, africana, asiática), espanhol (ibérico, sul-americano, centro-americano), alemão da Alemanha e da Áustria, holandês dos Países-Baixos e da Bélgica, e assim por diante. O português, idioma intercontinental, falado em sete países, não foge à regra. Pode-se detectar nele pelo menos três variedades: a lusitana, a brasileira e a africana (esta mais próxima da lusitana).
Quando se trata de variedades regionais dentro de um mesmo território, o principal aspecto a denunciar a variação é a pronúncia: diferenças de vocabulário só costumam aparecer a grandes distâncias; diferenças sintáticas são raras nesses casos. Já as variedades nacionais são mais perceptíveis: diferenças fonéticas acentuadas, maior variabilidade lexical, divergências ortográficas e até um sentimento nacionalista em relação à própria fala, como chamar o português do Brasil de "língua brasileira".
Diferenças Regionais do Português Brasileiro
1) Tupi Importado
A Amazônia fala de um modo bem diferente do vizinho Nordeste. A razão para isso é que lá quase não houve escravidão de africanos. Predominou a influência do tupi, língua que não era falada pelos índios da região, mas foi importada por jesuítas no processo de evangelização.
2) Minha Tchia
O litoral nordestino recebeu muitos escravos negros, enquanto o interior encheu-se de índios expulsos da costa pelos portugueses. Isso explica algumas diferenças dialetais. No Recôncavo Baiano, o "t" às vezes é pronunciado como se fosse "tch". É o caso de "tia", que soa como "tchia". Ou de "muito", frequentemente pronunciado "mutcho'". No interior, predomina o "t" seco, dito com a língua atrás dos dentes.
3) Maternidade
A exploração do ouro levou gente do Brasil todo para Minas no século XVIII. Como toda a mão de obra se ocupava da mineração, foi necessário criar rotas de comércio para importar comida. Uma delas ligava a zona do minério com o atual Rio Grande do Sul, onde se criavam mulas, via São Paulo. As mulas, que não se reproduzem, eram constantemente importadas para escoar ouro e trazer alimentos. Também espalharam a língua brasileira pelo centro-sul.
4) Chiado Europeu
Quando a família real portuguesa mudou-se para o Rio, em 1808, fugindo de Napoleão, trouxe 16.000 lusitanos. A cidade tinha 50 mil habitantes. Essa gente toda mudou o jeito de falar carioca. Data daí o chiado no "s", como em "festa", que fica parecendo "feishta". Os portugueses também chiam no "s".
5) Tu e Você
Os tropeiros paulistas entraram no Sul no século XVIII pelo interior, passando por Curitiba. O litoral sulista foi ocupado pelo governo português na mesma época com a transferência de imigrantes das Ilhas Açores. A isso se deve a formação de dois dialetos. Na costa, fala-se "tu", como é comum até hoje em Portugal. No interior de Santa Catarina, adota-se o "você", provavelmente espalhado pelos paulistas.
6) Porrrrta
Até o século passado, a cidade de São Paulo falava o dialeto caipira, característico da região de Piracicaba. A principal marca desse sotaque é o "r" muito puxado. A chegada dos migrantes, que vieram com a industrialização, diluiu esse dialeto e criou um novo sotaque paulistano, fruto da combinação de influências estrangeiras e de outras regiões brasileiras.
Retirado de: Aldo Bizzocchi / Super Interessante, abril 2000, p.49
By Eduardo Santos
Posted by Sthefani Curtz
Nenhum comentário:
Postar um comentário